sexta-feira, 13 de maio de 2011

“Espeleologia” o estudo das cavernas

Por, Emmanuel Nicodemos 
13/05/2011 

A relação do homem com as cavernas é muito antiga, elas foram um de seus primeiros abrigos e seu mais antigo santuário. As cavernas provocam inúmeras sensações como: medo, deslumbramento e uma intensa curiosidade aos nossos olhos. Esta curiosidade pelo mundo subterrâneo está a cada dia levando o homem a grandes descobertas.

Pequenos canudos, na caverna do  Buritizinho - Unaí-MG.
 

As cavernas só começaram a ser realmente exploradas cientificamente após a primeira metade do século XIX. O nome deste estudo vem do grego “spelaion -  Cavernas e Logia - Estudos”, que surgiu como uma ciência interdisciplinar, que estuda a arqueologia, paleontologia, química, hidrologia, hidrogeologia,  geologia e a biologia do mundo subterrâneo. A espeleologia além dos meios científicos também engloba a modalidade esportiva onde é denominada de caving.

O homem considerado mundialmente o “pai da espeleologia” é o francês E. A. Martel. Que acompanhando de outros cientistas deu os primeiro embasamentos teóricos a esta disciplina.
No Brasil o percussor espeleologia é o dinarmarquês Peter Lund, que entre 1835 e 1844 fez uma das maiores descobertas paleontológicas do país que foi a descoberta na região de Lagoa Santa – MG., de um importante fóssil humano, conhecido como o “Homem de Lagoa Santa”. Outro estudioso o alemão Richard Krone no início do século XX iniciou estudos na região do Vale do Ribeira - Iporanga-SP.

Na França, país considerado o berço do montanhismo e da espeleologia, foi criada em 1930 a Société Spéléologique de France. E também na França em 1953, foi realizado o Primeiro Congresso Internacional de Espeleologia em Paris.
Enquanto na frança as coisas já se encaminhavam, aqui no Brasil em 1937 formava-se o primeiro grupo de espeleologia do país, a Sociedade Excursionista e Espeleológica da Escola de Minas de Ouro Preto – MG., que foram os responsáveis pelo mapeamento da Gruta do Tamboril – Unaí-MG., a caverna mais ornamentada de nossa região.
Dentro dos parâmetros científicos as cavernas são formadas a partir de descontinuidades no maciço rochoso, que são fraturas que através de ações da natureza foram ampliadas com o decorrer do tempo. O processo de ampliação das fendas formam as “Cavidades Naturais” e esse processo ocorre pela dissolução que é um processo químico e pela erosão que é um processo físico, a dissolução ocorre em rochas solúveis como os calcários.

O meio hipógeo ou seja subterrêneo, (hypos – sob, embaixo; geos = terras),  segundo a Dra. Eleonora Trajano do Departamento de Zoologia de Biociências da Universidade São Paulo, pode ser definido como o conjunto de espaços interconectados do subsolo, preenchidos por água ou ar, que apresentam como característica a ausência permanente de luz e uma tendência à estabilidade ambiental.

As cavernas são divididas em três zonas;

  • Zona de entrada, que é onde ocorre a perda gradativa de luminosidade e ocorre mudanças da temperatura. A zona de entrada ocorre a maior diversidade biológica da caverna pois, é uma zona de transição entre organismos epígeos e hipógeos, ou seja, um ecótono.
  • Zona de penumbra, ocorre a perda da luz acompanhada do desaparecimento de vegetais verdes ou musgos, ocorre uma perda da diversidade restando ali somente os organismos mais complexos. Esta zona sofre variações de acordo com a posição de entrada da caverna em relação ao sol, depende da quantidade de luz que atinge a caverna.
  • Zona afótica, na zona afótica a escuridão é total e o ambiente é estável. A umidade relativa do ar está próxima de 100%. É nesta zona que ocorre os organismos sofrem troglomorfismos devido a esse isolamento.

Como as cavernas são divididas em diferentes zonas que diferem o ambiente cavernícola, os organimos que os habitam também sofrem caracterizações específicas, porque no meio hipógeo a manutenção da vida não é tão simples como no meio epígeo (externo), pois exige muito mais peculiaridades dos organismos, pois existem fatores críticos como a falta de luz, a temperatura do ambiente é constante e a umidade relativa do ar é muito alta. Os cavernícolas são adaptados ao meio, porém com algumas diferenças peculiares, e são classificados em trogloxenos, troglófilos e os troglóbios.

  • Trogloxenos, são organismos que vivem no meio hipógeo (subterrâneo), mas dependem do meio epígeo (externo) para completar seu ciclo de vida. Exemplo: Morcegos. 

  • Troglófilos, são facultativos, ou seja, vivem tanto dentro quanto fora das cavernas, podem completar todo o ciclo vital tanto no interior quanto no exterior. Exemplo: Besouros e grilos.
  • Troglóbios são os animais restritos ao meio hipógeo, onde completam todo o seu ciclo vital. Exemplo: Pseudoscorpiões, aranhas, opiliões, ampiblígios, besouros, diplópodes (piolhos-de-cobra), crustáceos, além de peixes como o bagre cego.
Grilo Cavernícola (Endecous sp.)


Amplipigio

Diplópode

Fonte das imagens: Fotos caverna do Buritizinho - Unaí-MG., retiradas por Elisangela F. Pazinato (GEPEL - Grupo Espeleológico Pé na Lama).



Inicialmente, esses organismos têm dois grandes desafios morfológicos como orientar-se no escuro e viver com pouco alimento. Devido a tais necessidades de sobrevivência esse animais possuem um metabolismo com um baixo consumo energético para conseguir manter suas atividades fisiológicas. Para a questão de localizar-se no escuro, desenvolveram sentidos não-visuais, ou seja modalidades sensoriais alternativas à visão, como sensibilidade química (quimiorrecepção), sensibilidade mecânica (ecolocalização) e sensibilidade eletromagnética, como ocorre em alguns peixes cavernícolas.
As principais fontes de energia para esses cavernícolas são restos vegetais e animais que são levados para as cavernas através de forças naturais ou caem acidentalmente, e também de animais vivos que caem acidentalmente por fendas ou clarabóias e vêm a ser alimento para os cavernícolas. A água que coteja através das fendas e dos espeleotemas, além de ser responsável pela formação destes, também transporta matéria orgânica dissolvida. Até as raízes que penetram as rochas são alimento para tais organismos.
Essa ciência que estuda biologicamente as cavernas é chamada de biologia subterrânea ou também bioespeleologia ou Espeleobiologia (do grego bios – vida; spelaion = caverna; logos = estudo).
A espeleologia é o conjunto de estudos relacionados às cavidades naturais, desde a topografia (que é o mapeamento das cavernas) até ciências complexas como a bioespeleologia, que vêm respondendo várias questões sobre o meio subterrâneo e vem se desenvolvendo muito no Brasil.
As cavernas devem ser respeitadas, no Brasil temos a SBE que é a Sociedade Brasileira de Espeleologia onde são filiados vários grupos do país, onde já foi realizado um trabalho de aproximadamente 2000 cavernas cadastradas.

A maneira que a espeleologia foi crescendo o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA criou a pedido da extinta Secretaria Especial de Meio Ambiente – SEMA, uma Comissão Interinstitucional para cuidar da proteção do patrimônio espeleológico nacional. Com a criação do IBAMA, em 1989, o órgão assumiu a competência legal e a responsabilidade pela espeleologia brasileira. Ciente de tal responsabilidade o IBAMA criou o Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo das Cavernas – CECAV.

O CECAV foi criado em 05 de Junho de 1997 - Dia Mundial do Meio Ambiente, com a atribuição de proteger o valioso patrimônio espeleológico brasileiro, valorizar e expressar o especial interesse em garantir a preservação dos frágeis ambientes cavernícolas do país.

No ano de 2009, no mês de setembro foi criado o "novo" Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas - CECAV, sediado em Brasília, no Distrito Federal, o objetivo é de realizar pesquisas científicas e ações de manejo para conservação dos ambientes cavernícolas e espécies associadas, assim como auxiliar no manejo das Unidades de Conservação federais com ambientes cavernícolas. Foi instituído também no mesmo mês um Programa Nacional de Conservação do Patrimônio Espeleológico, que tem como objetivo desenvolver estratégias nacionais de conservação e uso sustentável do patrimônio espeleológico brasileiro.

Dos responsáveis e colaboradores pelo patrimônio espeleológico do país temos a SBE que é uma entidade sem fins lucrativos, da qual fazem parte os interessados na exploração, pesquisa e preservação de cavernas. A sociedade Brasileira de Espeleologia foi fundada em 01/11/69, e vem incentivando, organizando e difundindo todas as atividades relacionadas à espeleologia no Brasil.

Nós na qualidade de cidadãos e membros de uma sociedade consciente de que o meio natural deve ser conservado e utilizado de maneira responsável devemos preservar nossas cavernas que são um dos patrimônios mais belos e frágeis da natureza.


Das cavernas 
 Nada se mata a não ser o tempo; 
Nada se tira, a não ser fotografias;   
 Nada se deixa, a não ser pegadas, e nos lugares certos.
Lema Internacional da Espeleologia.


Referências Bibliográficas

TRAJANO, Eleonora; Biologia Subterrânea, introdução / Eleonora Trajano, Maria Elina Bichuette. – São Paulo: Redespeleo, 2006.

SARMENTO, Ronaldo Lucrécio e Hamilton dos Reis Sales; Espeleologia Curso Iniciantes. EPL – Espeleogrupo Peter Lund. 1998.

http://www4.icmbio.gov.br/cecav/                                                                           
Acessado em 13/05/2011 às 13h23.

http://www.sbe.com.br/                                                                                    
Acessado em 13/05/2011 às 10h.

http://www.redespeleo.org.br/                                                                                                
Acessado em 13/05/2011 às 7h30.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A troca de pele das serpentes

10/05/2011
Por Emmanuel Nicodemos;

A pele das serpentes é sua armadura, sua proteção e é sempre trocada porque o animal precisa crescer, esse processo pode ser chamado de muda ou ecdise.


Fonte das imagens: Livro John Stidworthv – Serpentes (Série Prisma – Edições Melhoramentos - Editora da Universidade de São Paulo), págs. 20 e 21.

As serpentes são cobertas por escamas queratinizadas, a queratina está presente em diversos animais, em formas de unhas, pelos, escamas,cascos e chifres. A pele das serpentes após algum espaço de tempo, desgastam, sendo substituída por uma nova camada de pele. O modo em que ocorre essa mudança é incrível, pois há uma enorme diferença da forma em que ocorre em nós humanos, pois, na medida em que sofremos desgastes na pele produzimos continuamente queratina subepidermal, ao mesmo tempo em que a queratina externa se desgasta, ou seja, não conseguimos observar claramente quando ocorre esta mudança. Já nas serpentes essa mudança é bem clara, pois ela produz uma nova camada completa, a nova epiderme se desenvolve debaixo da antiga camada, e o processo só se completa quando a nova camada está completamente formada, inicia-se então o processo de abandono da antiga epiderme. Quando está prestes a perder a antiga epiderme as serpentes segregam um fluído entre as duas peles, que por ação deste não se tocam, dando ao animal uma aparência leitosa. Os olhos das serpentes são um dos primeiros locais onde pode-se, observar quando está prestes a ocorrer a muda de pele, pois o fluido leitoso cobre as pupilas, causando grandes dificuldades na visão do réptil durante esse período. O processo de troca de pele pode durar até 07 dias.
Para iniciar a muda de pele as serpentes procuram locais ásperos onde possam se esfregar, iniciando-se pela cabeça, até que a pele ao redor dos lábios se rasgue, esfrega em movimentos contínuos até retirar por completo a antiga epiderme. Às vezes pode acontecer da pele antiga sair aos pedaços, mas na maioria das vezes a pele sai por completo, essa pele é um molde perfeito da serpente, porém sem cor, transparente e meio que esbranquiçada, pois, as células pigmentadas continuam na derme, que nunca se muda, pois o que saiu foi a epiderme.
Após a ocorrência da troca de pele, a coloração das serpentes fica completamente renovada com cores mais vivas, a medida que os dias vão passando essa pele vai se desgastando novamente e as cores aparecem menos, até que o processo de muda ocorra novamente.

Fonte da imagem: www.zoopets.com.br


CURIOSIDADES DA ECDISE

Como muitos imaginam aquele chocalho, formado por guizos, causador de um som característico presente nas viperídeas, crotalus (cascavéis), não é um indicador de idade do animal. Aquele chocalho é sim formado pela epiderme ressecada que não se desprende daquela parte da cauda quando ocorre a troca, porém não é correto dizer que um guizo é referente a um ano do réptil.
O chocalho presente na extremidade da cauda das cascavéis (Crotallus) é utilizado como defesa em forma de intimidar outras espécies. As cascavéis utilizam seu chocalho vibrando a cauda que gera um ruído bem característico, um ruído de vibração. Esse chocalho é utilizado em forma de advertência, para hesitar outros animais em atacar ou em forma de advertência para evitar que seja pisoteada.

Fonte da imagem: Livro John Stidworthv – Serpentes (Série Prisma – Edições Melhoramentos - Editora da Universidade de São Paulo), pág. 141.

As cascavéis ao nascerem apresentam uma escama dura em forma de um botão presente na ponta da cauda, quando ocorre a primeira muda de pele esse botão é perdido e substituído, na segunda muda de pele elas não perdem esse botão, pois ele serve de apoio para a formação dos guizos, sendo assim nas mudanças seguintes vão se formando um apêndice na cauda com vários segmentos. Esse segmentos são compostos de epiderme ressecada ou seja, tecido morto, seco e oco, que em momento de alerta do animal produz o som.
Geralmente as mudas de pele das Cascavéis ocorrem cerca de três vezes por ano, mas depende de vários fatores. Alguns livros trazem que o segmento final do chocalho perde-se quando atinge mais de 07 segmentos.
Em outras serpentes a cauda também é utilizada mas não possuem chocalho, como em acontece em alguns ofídios que agitam a cauda na copula quando excitadas, como as surucucus (Lachesis muta), mas somente as cascavéis possuem o chocalho.
A pele não é mudada em intervalos regulares, a muda ocorre com uma variedade de fatores, como saúde, temperatura do meio em que vive determinada espécie, hibernação e quantidade de alimento ingerido. Normalmente as serpentes trocam de pele três ou quatro vezes por ano, esse número pode ser alterado quando se trata de espécimes mais jovens ou de diferentes espécies, tem-se exemplo de espécies que trocam de pele apenas uma vez ao ano.
Concluí-se que as alterações climáticas, os diferentes habitats, a alimentação, saúde e o desgaste são fatores que podem influenciar diretamente na troca de pele das serpentes tal como as diferentes espécies e que o chocalho das Crotalus não tem referência alguma com a idade do animal.

Pele de aproximadamente 2 metros de comprimento encontrada durante uma aventura da equipe Limite Vertical e equipe Verde Oliva Adventure à 38km de Unaí-MG., na mineradora UNICAL. 


Referências Bibliográficas:

STIDWORTHV   John; Serpentes - Série Prisma – Edições Melhoramentos - Editora da Universidade de São Paulo), pág. 141.
Acessado em 10/05/2011 às 15:32
http://www.zoopets.com.br/serpentes/peleserpentes-camaleao-iguana-iguanaverde-comprar-venda-zoopets.htm                                                       
Acessado em 10/05/2011 às 16:10